domingo, 7 de dezembro de 2014

O fracasso do amor









 
Não quero ser mal entendido. Aqui não se trata de uma apologia a uma vida conservadora. O que me chama a atenção é observar como estamos a cada dia mais exigentes com os nossos parceiros amorosos. Quando me refiro ao estar mais exigente, toco em uma necessidade de corresponder a certos ideais, certas imagens para que estejamos satisfeitos. Por que ideais tão elevados? Alguns autores já encontraram um culpado pra botar na conta: o mito do amor romântico.

A palavra romântico nos suscita ideais, utopias. O amor romântico movimenta uma indústria cinematográfica. Aprendemos amar através de imagens complementadas com uma boa trilha sonora. Vemos entrega, sacrifício (por sentimento), devoção, desprendimento em nome do nosso grande amor. Na tela fica lindo, mas na vida real um relacionamento é fruto de algum trabalho cujo resultado nem sempre nos leva ao atendimento de nossos ideais.

Mas o pior são os resultados contraditórios. Eu desconfio que os ideais do amor romântico que são tão excessivos e que muitos confundem como a definição mais pura do amor, estão fazendo com que nós amemos menos. Tenho amigos (as) que se “descasaram” porque o tal do “sentimento” acabou e o que conseguiram mesmo foi uma espécie de isolamento ao não conseguir se “encantar” por mais ninguém. E nem para dizermos que essas pessoas abraçaram uma vida de maior “liberdade sexual” no sentido vulgar do termo. Sei de tantos que estão há anos sem ter uma relação sexual. Numa cultura hedonista como a nossa, voltada ao consumo e ao prazer desenfreados, percebemos tantas e tantas pessoas vivendo suas vidas como se “poupassem”.

Tá ruim, nunca está bom, sempre fica algo faltando, quem sabe a próxima pessoa. Está aqui feita uma provocação. Será que amamos mais do que os nossos antepassados? Será que na ânsia de vivermos com mais intensidade e paixão não estamos caindo num vazio de afetos? Trago aqui para finalizar a frase do filósofo francês Pascal Bruckner em seu livro “Fracassou o casamento por amor?”: “Os casais de hoje não morrem por egoísmo ou materialismo, morrem por um heroísmo fatal, uma ideia ampla demais de si mesmos”.




terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A besta






Preso, violento, Solto, um dengo.
Você era assim, como o meu cão.
Quando casado um vulcão
Só na rua que não.
Veja só que contradição.
Eu sempre soube
Que você não era disso,
Mas resolveu ir atrás do paraíso.
E quando veio a liberdade
A rua, a imensidão.
Se borrou de medo,
Descobriu seus desejos.
Não teve peito.
Era a desilusão.
Então recuou, voltou pra casa.
Cobrou fidelidade.
Falou de princípios, de religiosidade
‘até que a morte nos separe’.
Mas agora nem me fale.
Descobri o que me faltava
Era muita, muita vergonha na cara
E quando lembro a besta que eu era
Só me pergunto ‘onde estava a fera?’
Hoje, não vivo mais a vida
Melhor...
Faço amor com ela.

Cansei de fazer sala






Estou Passado!
Estou ficando velho!
Sou do tempo que artistas ensinavam.
Que era uma aventura Conhecer.
Que saudade dos Mestres, aqueles que nos faziam morrer.
Que saudade do Tempo, dos livros, da biblioteca.
Que saudade de aprender junto.
Que saudade de (des) construir junto.
Que saudade do Desejo.
Da Fome.
Sei que pareço ridículo.
Dizem ser anacrônico, 
Ninguém se entrega mais à saudade.
Mas o que posso fazer?
Neste Presente não se anda pra frente.
Tão desesperador, tão retrô.
Nada é mais iludido do que um Educador.
Nada mais canceroso do que esses escrotos.
Na casa que eu deveria ensinar a ‘viajar’,
Eu só faço domesticar.
Ninguém vai sair, ninguém há de deixar.
Basta estar na lista, basta pagar.
A essa altura do campeonato
A gente se convence que é melhor cuidar de si.
Pra que ‘um por todos...’ ? Melhor todos por mim.
Pessimismo?
Sim, talvez sim.
Talvez já tenha dado pra mim.
Talvez já seja hora de partir.
Pra outros cantos se não perde o encanto.
Eu não me entrego, sou eu no comando.
Cansei de fazer Sala, vou pegar minha mala.
Vou pra debaixo de uma árvore.
Pro ‘museu de grandes novidades’.
Quem sabe eu não te desamarro?
Quem sabe eu não me amarro?
Pra quem fica, aquele abraço.