terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

"Deixa Ser"

“Aquilo que contém, fica. Aquilo que se aceita, vai”. Dizem os orientais, que tudo que vem, deve-se acolher para que possa ir. Essa máxima que pegou no mundo ocidental há umas décadas atrás vem me cativando aos poucos. É verdade que tem muita gente que acha isso uma loucura. Eu insisto que não.

Segundo esta filosofia, aquele que luta contra, que ataca, ainda que seja por defesa, está infringindo uma violência ao modo “natural” de ser. Quem já fez Aikido, sabe visceralmente essa verdade. Nessa arte marcial não existem ataques, usa-se toda a intenção e força do adversário contra ele mesmo. 

Isso se aplica também na arte da vida. E não é só na relação com o outro que isso vale, mas com a gente também. A tristeza insistente, o mau humor aparente e toda a gama de desejos, sentimentos e obsessões que experimentamos, desconfio que reclamam por um espaço. Se esses moradores da nossa casa não são vistos e escutados, bagunçam geral. Se tiverem o seu espaço, vão aprendendo a respeitar o espaço dos outros.

Mas nem tudo que vem é bom ou sadio. O que fazer com aquele que é um tsunami de verborragia preenchendo um diálogo? Aceitar é submeter-se? Como lidar com nossa agressividade louca pra dar uma surra em alguém? Deixar vir é perverter-se? Penso agora que a baliza necessária para discernirmos a aceitação dessas formas equivocadas talvez esteja no sentido que isso tem: vem para agredir o outro (ou a mim mesmo) ou vem pra libertar, acolher, cuidar? A diferença no fundo, todos nós sabemos e negar isso é sempre muito conveniente.


A palavra "aceitação" tornou-se chave nos processo de mudança. Muitos psicólogos já perceberam esse paradoxal movimento da nossa natureza. Parece que quanto menos se aceita algo, mais ele persiste. No fundo, no fundo, parece que tudo o que todos querem mesmo, antes de largar o seu osso, é mais um pouco de colo.