Não quero ser mal entendido. Aqui
não se trata de uma apologia a uma vida conservadora. O que me chama a atenção
é observar como estamos a cada dia mais exigentes com os nossos parceiros
amorosos. Quando me refiro ao estar mais exigente, toco em uma necessidade de
corresponder a certos ideais, certas imagens para que estejamos satisfeitos. Por
que ideais tão elevados? Alguns autores já encontraram um culpado pra botar na
conta: o mito do amor romântico.
A palavra romântico nos suscita
ideais, utopias. O amor romântico movimenta uma indústria cinematográfica. Aprendemos
amar através de imagens complementadas com uma boa trilha sonora. Vemos entrega,
sacrifício (por sentimento), devoção, desprendimento em nome do nosso grande
amor. Na tela fica lindo, mas na vida real um relacionamento é fruto de algum
trabalho cujo resultado nem sempre nos leva ao atendimento de nossos ideais.
Mas o pior são os resultados
contraditórios. Eu desconfio que os ideais do amor romântico que são tão
excessivos e que muitos confundem como a definição mais pura do amor, estão
fazendo com que nós amemos menos. Tenho amigos (as) que se “descasaram” porque
o tal do “sentimento” acabou e o que conseguiram mesmo foi uma espécie de
isolamento ao não conseguir se “encantar” por mais ninguém. E nem para dizermos
que essas pessoas abraçaram uma vida de maior “liberdade sexual” no sentido
vulgar do termo. Sei de tantos que estão há anos sem ter uma relação sexual.
Numa cultura hedonista como a nossa, voltada ao consumo e ao prazer
desenfreados, percebemos tantas e tantas pessoas vivendo suas vidas como se “poupassem”.
Tá ruim, nunca está bom, sempre
fica algo faltando, quem sabe a próxima pessoa. Está aqui feita uma provocação.
Será que amamos mais do que os nossos antepassados? Será que na ânsia de
vivermos com mais intensidade e paixão não estamos caindo num vazio de afetos? Trago
aqui para finalizar a frase do filósofo francês Pascal Bruckner em seu livro “Fracassou
o casamento por amor?”: “Os casais de hoje não morrem por egoísmo ou
materialismo, morrem por um heroísmo fatal, uma ideia ampla demais de si
mesmos”.